Série Filhos na Alemanha – Período dos 4 aos 6 anos
Informação voltada a famílias brasileiras ou binacionais sobre a criação e educação de filhos na Alemanha
por Bianca Donatangelo, Camila Nobiling Urbanz e Cíntia Godoy
O começo da independência
A partir dos 4 ou 5 anos, a criança vai se tornando mais independente sobretudo em termos de coordenação motora. Afinal, dia após dia, seu filho está ganhando mais segurança nos movimentos. Além de andar e correr com mais desenvoltura (talvez até se equilibrar por alguns segundos em uma só perna), a criança tenta fazer e resolver cada vez mais coisas sozinha. Nesta fase, que demanda obviamente muita atenção dos pais (sem falar em mais diálogo que antes), procure motivar seu filho sempre, reconhecendo cada um de seus passos e avanços – mesmo que seja apenas abrir ou fechar um zíper. Estimule atividades físicas, tais como jogar bola ou brincar de pega-pega. Dê para ele uma ou outra tarefa simples do lar, por exemplo, juntar peças espalhadas em uma caixa ou encontrar pares de meia na montanha de roupa limpa… Tudo isso estimula o desenvolvimento cognitivo e a habilidade motora da criança.
Em torno dos 5 anos, de acordo com estudos científicos, o ser humano assimila em média seis novas palavras ou conceitos por dia. De fato, o vocabulário de uma criança parece se multiplicar neste período. Ela começa a entender que tudo tem causa e efeito. Com isso, aumenta demais seu interesse por contextos e relações. E, como a fala também se torna cada vez mais fluente, clara e articulada, a possibilidade de conversas explode. Portanto, aproveite e dialogue com seu filho toda vez que ele vier com as incontáveis perguntas típicas desta fase (Quem? Quando? Por quê?). Mas busque empregar uma linguagem adequada e perceba quando deve parar e mudar de foco, sobretudo se notar que está difícil prender a atenção do pequeno. Nessa idade, é comum que os menores não consigam se concentrar por muito tempo.
Em contrapartida, a fantasia de uma criança dos 4 aos 6 anos parece infinita. É mais do que hora de contar histórias para seu filho (faça uso das várias lendas do folclore brasileiro e alemão!), montar quebra-cabeças com ele (aptos à idade, uma informação que você encontra em toda embalagem de brinquedos na Alemanha), cantar juntos músicas infantis e empreender muito “basteln”, ou seja, fazer atividades artesanais que estimulam a criatividade.
Seu filho, aliás, já deve saber não apenas comer com talheres, reconhecer as cores primárias e até falar ao telefone, como também já pode apontar que comidas e bebidas prefere, qual sua cor favorita e para quem gosta de ligar. O desenvolvimento de gostos é saudável, até mesmo quando existe ou surge a necessidade de contrariá-los…
Para o bem de sua criança, os pais precisam agir da melhor forma possível, sobretudo de maneira consequente e responsável, mas sempre com muito amor e sensibilidade. Estamos terminando a primeira infância, uma época capaz de formar boa parte da personalidade do ser humano. Temas como justiça, ética e bom comportamento devem ser abordados e exemplificados de um jeito lúdico, com a finalidade de transmitir ensinamentos úteis para aptidões futuras. Nessa idade, as crianças enfrentam (pela primeira vez de modo mais consciente) o que significam regras ou têm que aprender a aceitar a situação, por exemplo, ao perderem uma partida.
Os pais precisam de paciência e jogo de cintura, sem dúvida, mesmo porque algumas crianças tendem a começar a mentir para defender seus interesses. Na verdade, elas vão aprendendo aos poucos a reconhecer e a lidar com seus pontos fortes e fracos. Com o tempo e a ajuda dos pais, elas passam a entender que, de vez em quando, é preciso sim desistir de uma ideia ou acatar uma ordem.
Esta fase integra ainda os preparativos iniciais para seu filho entrar no colégio. Nos próprios jardins de infância, a criança começa a conhecer alguns números, letras e até regras de trânsito. E ela adora fazer experimentos! Assim, até os 6 anos, a maior parte dos menores já sabe contar dezenas na sequência certa ou até mesmo escreve seu nome completo. Durante os meses que antecedem o acesso à escola primária, os pequenos aprendem ainda a se vestir sozinhos, a amarrar os cadarços, a narrar acontecimentos de uma forma mais lógica, a desenhar e pintar com mais detalhes e a andar de bicicleta sem rodinhas, entre outros progressos.
Na natureza, atividades estimulantes são empinar pipa, visitar parquinhos e juntar conchas, pedras ou folhas. Em caso de frio ou chuva, adesivos ou outros itens de coleção também fazem o maior sucesso.
Outro ponto que chama atenção dos pequenos é o próprio corpo, por isso olhar-se bastante no espelho, fazer “caras e bocas”, investigar e tocar (também outras crianças) são parte integrante da evolução natural. Uma boa regra propagada nos jardins de infância Alemanha afora é “olhar pode tudo, mas enfiar nada”. E isso vale também para o buraco da orelha e do nariz!
Com tantas opções de entretenimento, parece que alguns menores não conseguem relaxar sem fazer nada, demandando uma “programação” quase que ininterrupta. Caso seu filho esteja reclamando muito de tédio (“Langeweile”), alerte-o como são importantes e saudáveis certos momentos desocupados na vida. Mantenha-se ainda consequente nos rituais que promovem um pouco de silêncio, por exemplo, desligando a televisão na hora do jantar. Se nada funcionar a longo prazo contra o mau humor do pequeno, um bom exercício é fazê-lo então ele mesmo inventar afazeres, o que estimula sua criatividade e independência.
Saúde e doenças
Embora doenças sejam mais raras neste período (uma vez que a maioria das crianças já está vacinada bem como se adaptou à creche e aos demais grupos sociais em que está inserida, tornando-se imune a uma variedade de vírus e bactérias), é claro, elas podem acontecer. Nesses casos, procure primeiro identificar o que pode estar faltando a seu filho. Ele precisa dormir mais? Ou se alimentar melhor? Às vezes, tomar um chá leve de erva-doce (“Fenchel”) ou apenas comer bolachas de água e sal (“Schonkost”) já ajuda. Mas se problemas como febre ou diarreia não passarem depois de um dia, telefone para o pediatra para marcar uma consulta.
Pais que trabalham fora, em um emprego regular, têm o direito de tirar livre até dez dias adicionais por ano, a fim de cuidar de sua criança enferma (de até 12 anos). Em se tratando de mães ou pais solteiros (“Alleinerziehenden”), a lei alemã permite até 20 dias assistenciais por ano.
Entre os 5 e 5,5 anos, antes de entrar na escola, seu filho deve passar pelo exame médico U9. Nele, o pediatra deve controlar o desenvolvimento da criança em termos fisiológicos e mentais, por exemplo, como está sua visão, audição e fala. Além disso, com cerca de 6 anos, começam a amolecer os primeiros dentes de leite. Para que o processo seja o menos traumático possível para seu filho, não arranque nada naqueles métodos caseiros de antigamente e, quando surgirem os dentes definitivos, reitere a importância de uma escovação correta e assídua – controlando de vez em quando, é evidente! Neste período, seu filho já deve frequentar o dentista a cada semestre, com direito a uma limpeza dentária profissional e gratuita (“Kinderprophylaxe”).
Entrada na escola
Para a entrada na escola, via de regra, as famílias recebem com antecedência e por carta diversas informações das repartições estatais responsáveis. Na Alemanha, toda criança tem direito a uma vaga na instituição da rede pública mais próxima à sua casa (“Schule aus dem Einzugsgebiet”). Ainda assim, é possível visitar e se candidatar em outras escolas, cujos modelos talvez agradem mais. Existem diversas linhas e modelos educacionais. Os pais são informados por carta caso o filho tenha conseguido a vaga desejada ou se deve se inscrever na outra instituição de ensino, a mais próxima e garantida por lei. Depois disso, é obrigatório fazer a matrícula (“Schuleinschreibung”).